ANDRESEN, João, A Casa Ruben A, Pinhal do Carreço- 1948
As características do contexto de intervenção e o modo como o projecto lhes responde
Num dos períodos mais
importantes da sua vida, Ruben A. sonha poder ter o seu próprio refúgio, o seu
próprio lugar, e aí pensa em aplicar o seu dinheiro – 78 contos – em
felicidade.
“ (…) Vontade de erguer o meu altar onde pudesse ser eu
a cruzar os mares dos meus próprios sonhos.” [1]
Essa sua ideia de
construir para si mesmo um refúgio em Portugal junta-se ao desejo que tinha em
habitar no Alto Minho. Desde sempre Ruben A. mostrou particular interesse por
essa região pois, para si, este era um lugar cheio de histórias que iam ao
encontro de uma “condição mítica do seu imaginário”.[2]
“Pretendia construir uma casa onde não existisse
qualquer relação entre o meu passado e o presente, casa livre de sentimentos.
Havia necessidades básicas: perto da praia, pois no verão eu vinha à terra,
muitas árvores, pinheiros, isolada, só a natureza a falar comigo, longe de
gentes, realidade fácil de transportes para quem viaja de comboio ou à pata.” [3]
A Casa Ruben A.
situa-se então em Carreço, Viana do Castelo, na encosta poente de Montedor. Envolta
entre pinheiros e rochas, resolvida em três “meios pisos” e a acompanhar o
declive da encosta em direcção ao mar.
“A construção está lá, como se fosse uma rocha
qualquer. Sargaço é mais um elemento entre outros. A paz e a tranquilidade do
pinhal – que para João Andresen é sagrado – é também a paz e tranquilidade da
casa. A qualidade da natureza que envolve a casa é também a qualidade da casa.
Antes de cá estar a casa, já cá estava a natureza. Por isso, respeitar a
natureza significa mexer o menos possível nela” [4]
Esta casa respeita e
interpreta na perfeição a personalidade do lugar, dando maior ênfase, através
das suas pedras e das suas formas simples, a intimidade do refúgio.
Para João Andresen, era
importante fazer as construções de forma que nunca pudessem ser construídas
noutro sítio. É perceptível em todas as suas obras uma preocupação permanente
em enquadrá-las tanto no espaço físico como social. Isto é, tem sempre em conta
o local onde se vai construir o projecto como também as pessoas que o vão usar.
João Andresen faleceu
em 1967, mas no entanto deixou um vasto número de obras que, contrariamente ao
que quase todos os arquitectos da sua geração faziam, estavam sempre associadas
às regiões na qual iam ser construídas.
Ana
Tostões, no seu livro Os Verdes Anos da
Arquitectura Portuguesa, sublinha a forma particular como João Andresen
implanta os seus projectos nos terrenos:
“Revelará uma aguda sensibilidade em relação ao lugar e
ao contexto que a sua genialidade impedirá de assumir de um modo discreto”. [5]
Desde o início da
localização que a natureza essencial da arquitectura se realiza. O terreno escolhido
por Ruben A., permite que a casa “olhe” sobre tudo e, ao fundo, “veja” a
paisagem infinita do horizonte marinho.
A casa é um volume linear colocado transversalmente às curvas de nível do terreno, e tanto a sua localização como a implantação fazem da casa uma espécie de linha topográfica que marca a relação Terra-Mar, Nascente-Poente e é ainda um eixo dirigido para a paisagem do horizonte.
A casa é um volume linear colocado transversalmente às curvas de nível do terreno, e tanto a sua localização como a implantação fazem da casa uma espécie de linha topográfica que marca a relação Terra-Mar, Nascente-Poente e é ainda um eixo dirigido para a paisagem do horizonte.
A ligação entre a construção e o lugar não é
visualmente perceptível sendo preciso interpretar o espírito de lugar. As
aberturas nas paredes da casa são orientadas em relação ao exterior, tirando
partido e valorizando determinados aspectos do espaço exterior .
É da implantação que a casa surge a fazer
frente à paisagem através de uma fachada frontal, simétrica e verticalizada.
O
alçado Poente, é marcado por dois rectângulos abertos na direcção do mar, onde
se vê a varanda (em cima) e o alpendre (em baixo).
O
alpendre não é um espaço facilmente classificável, no entanto tem uma natureza
única e uma condição singular. Este anuncia delicadamente a entrada da casa e
com tranquilidade sugere o descanso.
“ O projecto da Casa Errazuriz, junto ao mar,
no Chile(1930), e a casa em Mathes, França(1935), de Le Corbusier, projectadas,
respectivamente, 20 e 15 anos antes da Casa Ruben A., parecem ter sido as
principais referências dessa construção.”[6]
A forma da casa
contraria geometricamente a forma da paisagem, sendo esta oposição mais
evidenciada pela linha de cobertura da água de maior dimensão.
O desejo de tradição/inovação
é expressa pela solução de coberturas, muito característica da obra de João
Andresen. Entre o modelo típico arquitetónico da cobertura em duas águas
inclinadas para fora e a solução radical da cobertura plana, ele opta pela
cobertura de águas inclinadas e assimétricas.
Na Casa, a síntese
tradição/inovação concretiza-se numa arquitectura em que predominam massas e
opacidades, como expressão de refúgio, firmeza e intimidade.
A simples linha
contrária à pendente do terreno, define a ideia da Casa de Ruben A - “Ao
elevar-se, abriga o interior e concretiza a ideia de refúgio. Desafia a
natureza.”
Concentração,
centralidade, refúgio e isolamento são os significados que estão incutidos na
solução do “Quarto Elevado”.
“Desta maneira, a obra de
arquitectura, por seu modo específico de estar entre o Céu e a Terra – pelo
modo de erguer-se e apoiar-se, de estender-se e concentrar-se, de abrir-se e
fechar-se…- reflecte, em formas sensíveis, estados da alma humana
(Befindlichkeit). A imagem arquitectónica constitui-se, não apenas como
iconografia aparencial, mas sobretudo como construção de uma espacialidade
vivida (Raumlichkeit), construção de um modo humano de estar «entre o Céu e a
Terra». A obra de arquitectura realiza-se então como «acontecimento de verdade»
”[7]
A lógica funcional e espacial da planta que melhor
representa o projecto
Se analisarmos a planta
do piso inferior podemos ter conhecimento dos compartimentos mais importantes,
criados por J. Andresen, cumprindo os desejos do seu primo.
Segundo uma carta de J.
Andresen para Ruben A[5], a casa tem:
“(…) sala única com 4m x 6m e tal com uma parede em
vidro sobre o mar, em rez do chão(…) Quarto de hóspedes pequeno voltado ao sul,
quarto de banho e cozinha de “Wagon- Lits”. Um grande alpendre para onde dá a
parede envidraçada da sala, céu, terra mar e AR.”[8]
Ao todo a casa tem 90
por 70m2 de área.
Tanto no exterior como
interior, esta casa foi concebida economicamente e, por isso, possuí:
“Paredes de granito, cobertura em chapa ondulada “Lusalite”
tectos em chapas de aglomerado de cortiça 0,03m de espessura, sem rebocos, caixilharia
em macacauba, portas de contraplacado, lambrins de cozinha e quarto de banho em
chapa de alumínio, (…) pavimento da sala e quarto de hospedes em tijoleira.
(…)” [9] [6]
Neste piso de rés-do-chão,
notam-se dois espaços diferentes de distribuição: um, com uma forma regular a
partir do qual podemos aceder ao quarto principal, através de uma rampa, e outro, com uma forma irregular. Um espaço muito
pequeno em que depois de entrar nele, através de uma porta, nos deparamos com
mais três espaços: a cozinha, o quarto de banho e o quarto de hóspedes. Fazendo
referência às primeiras casas de Le Corbusier, este último espaço, irregular, é
interessante sobretudo pela sua procura de valorização do sentido de
circulação.
É notória a influência
de Le Corbusier para a criação desta casa, como é confirmado por uma referência
de Alpendurada:
“(…) As experiencias da nova estética purista, marcada
por uma abstracção da linha curva e da forma cúbica e referenciando temas
triviais, como uma garrafa de vinha, uma chávena de café, uma viola, um jarro…
influenciavam as formas corbusianas. Elas surgem nos seus edifícios, geralmente
associadas a elementos como caixas de escadas, rampas, painéis divisórios ou
paredes de quarto de banho. Com essas formas, Le Corbusier muitas vezes
valoriza o sentido de circulação no interior dos seus edifícios, ao mesmo tempo
que cria uma dinâmica espacial mais rica e sensual”[10]
No terraço, um espaço
tanto interno como externo, tem mo pavimento um acabamento de areia da Praia do
Carreço, tornando evidente a simbologia de ligação ao sitio e à Terra.
Protegida por este
terraço, segue-se a porta de entrada contida na esquadria, composta de folhas
fixas e móveis, que ocupa o vão inteiro. Esta esquadria não se parece como uma
perfuração, é diferente das aberturas pontuais nas fachadas laterais e posterior,
é sim, segundo o próprio Andresen, uma “parede de vidro sobre o mar”.
Podemos observar que
neste piso, o espaço mais importante da
Casa é a sala comum.
Com mobiliário
reduzido, parece tanto moderna como tradicional. A mesa e a lareira são o
centro da sala, enfatizada pela verticalidade da chaminé. É em volta dessa
quase desenvolve a intimidade doméstica.
É com conjunto da
caixa e chaminé da lareira, juntamente com as prateleiras, que o volume é
construído e que a complexidade e riqueza espacial aumentam.
Este espaço é o núcleo
da casa em termos funcionais, pois não só se abre para o exterior como dá
acesso a todas as restantes divisórias da casa. É o centro que tem continuidade
para o exterior e tudo o resto está anexado a esse.
Existem 4 degraus que
levam a um nível acima, onde se situa o quarto de hóspedes, Cozinha, Quarto de
banho e o patamar que dá acesso à rampa.
Esta
rampa resulta como um passadiço ou ponte suspensa sobre o vazio, para o lugar
mais refugiado da casa, mas também o mais privilegiado em paisagem, o quarto
principal.
A
lógica funcional e espacial do corte que melhor representa o projecto
Sendo que, por escolha
do morador, a casa é situada numa encosta sobre o mar, em Montedor,
“destina-se a gozo de férias de
verão dum Professor de Português numa
Universidade estrangeira, de 30 anos.”
Ruben A gosta tanto do Alto-Minho, como do mar, ou até mesmo da
companhia que a leitura lhe proporciona, por isso, esta casa é ideal para estar
bem longe da capital e viver o que ele mais aprecia
O desenho da habitação
e, consequentemente, o modo como se habita é identificado claramente com a
paisagem que a envolve.
Como tal, podemos
verificar no corte, que a casa parece apontar para o mar. Contém um eixo
principal que está orientado para nascente/poente, e acompanha a inclinação do
terreno em direcção ao mar. No entanto, a sua localização é perpendicular a
linha do Atlântico, justificada pelo desejo do morado Ruben A, de ficar isolado
num quarto em piso superior, obrigando assim o seu primo a projectar desde o
início uma casa com 2 andares.
A casa tem 3 níveis,
sendo que dois são de um primeiro andar de rés-do-chão, pois esta acomoda-se ao
terreno, pousando suavemente sobre ele.
É destes
desnivelamentos que resulta a verticalidade exterior e espacialidade interior.
Andresen aproveitou a
inclinação da encosta e desenhou o quarto de Ruben A., na parte poente da Casa, isolando-o dos restantes
compartimentos, como o morador desejava, sem fragmentar a construção e
garantindo uma maior diferença de cota em relação ao terreno.
Este quarto está
situado no plano mais elevado da construção, e é, basicamente, o refúgio de
Ruben A, dentro do refúgio. É um espaço voltado a poente, muito isolado pois
apenas uma rampa de 5 metros une este compartimento as restantes áreas da casa.
A entrada deste
quarto, é marcada pelo quadro que nos é proporcionado pela janela que existe no
cimo da rampa.
João Andresen
aproveita os desejos de seu primo para criar com este quarto um pequeno mundo
dentro de outro mundo, pois a casa em si já é um ninho. A elevação do mesmo,
remete para a necessidade de descobrir um estado de espírito superior, estar no
cimo das árvores, acima do chão. Assim, este quarto confere um carácter
singular.
Contem ainda uma
varanda, pequeno espaço para desfrutar da paisagem.
A construção da forma
resulta sobretudo da maneira como a cobertura, feita a partir das duas águas
inclinadas e de tamanhos diferentes, se relaciona com as paredes, denunciando
assim duas zonas da Casa.
“Debaixo da água menor, encontramos o pequeno quarto de
hospedes, a cozinha e o quarto de banho. Debaixo da água maior, com duplo pé
direito, situa-se a sala comum sobre a qual se debruça o quarto de Ruben A.”[11]
A forma da Casa Ruben
A é geometricamente oposta à forma da paisagem, pois tem linhas com direcções contrárias
a declive topografico, criando uma segunda natureza.
Neste corte pode
observar-se as linhas do alçado Sul, pelo facto da Casa ter uma forma muito
particular.
É possível mostrar
toda a espacialidade da casa, num corte.
Nota-se claramente o
uso de volumes e linhas simplificadas, desde o tecto à elevação de espaços,
etc.
E a lógica espacial é
muito à volta disso mesmo. Podemos voltar a dizer que, além da lógica funcional
na circulação da Casa, também a lógica espacial mostra bastante influência de
Le Corbusier.
Uma arquitectura
branca e pura que se identifica com o ambiente que o morador idealiza.
O Movimento Moderno,
sendo a designação genérica para o conjunto de movimentos que vieram a
caracterizar a arquitectura produzida durante grande parte do século XX, está
patente na Casa Ruben Andresen.
“O alçado Sul é mais elaborado pelo facto de nele se
encontrar a entrada da casa, o seu desenho muito cuidado. A linha resultante da
junta entre o reboco e o granito marca de forma clara o desenho da horizontalidade
na arquitectura da casa.”[12]
Seguindo esta
caracterização feita ao alçado sul, por Alpendurada, verifica-se uma das
máximas representantes do modernismo - a forma resultante seguir a função, que responde
a imperativos éticos do Movimento Modernista ligados às exigências de
funcionalidade, de verdade estrutural e da simplicidade formal, apresentando
esse desenho em base da horizontalidade e uma forma pura intencional.
Ainda sublinhando esta
horizontalidade, existe uma janela de forma rectangular que apenas é
contrariada pela forma da chaminé.
Uma das janelas do
alçado Norte desta casa tem um aspecto marcante na fachada pelo facto de o
corpo onde e situa a cozinha estar num plano diferente em relação ao restante
da casa,
“dando origem a um sutil desfasamento entre
as duas águas”[13]
que confere dinamismo à composição (mais
uma referencia a influencia de Le Corbusier para o desenho da Casa).
Por estar voltado a norte o número de
aberturas é menos e, por isso, este alçado é mais simples do que o alçado sul,
notando-se ainda mais a necessidade por linhas concretas e formas brancas, sem
elementos decorativos.
A localização
de uma das janelas é pensada em relação ao interior da casa.
Se continuarmos a analisar os restantes
alçados poderemos ainda perceber que a linha recta, os rectângulos e o jogo de
planos está permanentemente presente, contribuindo a relação da casa de
exterior interior.
A janela na fachada Oeste aparece como
«forma fechada» pela simetria e verticalidade desta.
Já nas elevações Norte
e Sul a arquitectura assume «formas abertas» marcadas pela assimetria e
dissonância, que lhe conferem uma expressão dinâmica e inequivocamente moderna.
Uma imagem – chave na arquitectura da casa
é a «pequena janela» que aparece como perfuração revelando a espessura da
parede em que foi vazada. Uma imagem semelhante a que outros arquitectos, como
Corbusier e Távora, que buscam no primitivo fontes originais da Arquitectura
Moderna também usam em obras deles.
Segundo Bacheland:
“Uma Casa tão dinâmica permite ao poeta habitar o
Universo. Ou, dito que outra maneira, o Universo vem habitar sua Casa”[14]
A casa de um homem moderno
é muito dinâmica, como se nota na arquitectura de Le Corbusier.
Segundo o escritor
português João Gaspar Simões:
“Ruben A, tinha erguido perante o mar no alto daquele
monte, em pleno Condado Portucalense, uma dessas habitações modernas que dão à
vida na terra a flutuação da vida no mar”.[15]
A solução da cobertura
é parte importante na evidente expressão de dinâmica na Casa. Esta mesma
cobertura é uma nova síntese que resulta numa solução arcaica e moderna.
Andresen é muito
característico na procura de o Tempo
Português, entre uma cobertura arquetípico com duas águas inclinadas para
fora, e uma cobertura plana, este arquitecto opta por um misto de ambas.
Inclinadas mas assimétricas.
Apesar dos vários
materiais usados pelo arquitecto na casa apenas o vidro, usado nas janelas e
paredes, e o betão, usado no pavimento
no quarto do 1º andar, são os materiais característicos do movimento moderno.
Uma outra máxima que se torna uma das
representantes do Modernismo é o sentido de menos é mais, máxima esta que
também se encontra na casa Ruben . No âmbito da resolução dos problemas da
Habitação Mínima: o uso dos “meios-pisos”, a valorização dos elementos de
circulação, (como a escada e a rampa,) a fenestração definida a partir das
necessidades funcionais do interior e da relação deste com a paisagem externas,
as paredes brancas e lisas, volumes de contornos claros, são de certa forma evidentes
na invocação das obras de Le Corbusier. A linguagem marcadamente moderna, feita
de paredes lisas, ora brancas, ora de pedras, a cobertura inclinada integrada
no volume de construção, a pureza desses mesmo volumes, são aspectos presentes
nessa obra.
Os edifícios deveriam ser económicos,
neste sentido, a casa Ruben Andresen apresenta mais uma vez modelos canónicos próximos
do movimento moderno: com pouco dinheiro se fez a obra – 78 contos- em 1950-
foi quanto custou o sonho de Ruben A. A
economia foi a principal condição para a realização da obra, executada por um
empreiteiro local.
“ A linguagem da Casa Ruben A. de João Andresen é
moderna. As suas formas são puras. O traço afirmativo e seguro. Quer pelo
modelo de vida informal, quer pela linguagem depurada. Sargaço é moderna.”[16]
Por fim, outro aspecto deste projecto que é bastante próximo dos cânones
que o movimento moderno ditam, e sendo esta uma das principais características
modernas na casa, é o conceito de Promenade
Architecturale de Le Corbusier. Este conceito diz que os espaços
envolventes mais próximos da casa, ou sejam os acessos directos para a mesma,
devem ser dinâmicos e nunca óbvios e/ou comuns. Este conceito deve sempre
seguir uma ideia de surpresa.
Nesta casa de João Andresen, isso é perceptível logo
na entrada, pois esta não é feita pelo alçado poente, alçado principal e frontal
da casa, no entanto, é visível e perceptível desse ponto de vista. Isto obriga
a que quem chegar à casa percorra todo o alçado poente e só na lateral (alçado
sul) é que poderá então entrar, o que se traduz então num acesso/caminho
dinâmico. Continuando a referir-me à entrada da casa, esta situa-se por baixo
da laje da varanda do quarto, o que dá ao acto de entrada um progresso gradual
entre exterior/interior.
Para além de se poder entrar pela porta que
realmente serve para tal, existe outra possibilidade para o fazer que é pelo
lado sul, onde existem uns degraus que nos levam à parte mais a nascente e
entramos na mesma pela cozinha que está numa cota superior em relação ao resto
da casa. Isto, tal como diz a “Promenade Architecturale”, faz com que os
acessos sejam dinâmicos e ainda variados.
Os aspectos do projecto que mais se distanciam dos
modelos canónicos do movimento moderno
Tendo em conta os
modelos canónicos do movimento moderno, podemos concluir que esta casa segue
muitos dos seus traços, e por isso, em pouco se distancia do mesmo. No entanto,
existem pequenos momentos em que este projeto não vai ao encontro desse mesmo
movimento, momentos esses que serão analisados abaixo.
Na sua construção
(quer interior, quer exterior) são utilizados grandes blocos de granito, que já
eram usados desde tempos imemoriais da história da arquitectura portuguesa, ou
seja, que em nada são modernos.
Quanto à sua
implantação, é transversal e contrária a topografia do sítio, como já foi
referido. Isto confere à obra de Andresen qualidades de frontalidade e
axilidade claramente clássicas. Sendo Ruben A:
“ A casa de puro-sangue assentava as omoplatas no
arregalar de olhos de uma Natureza intacta pelo homem desde a sua criação”[17]
A Casa é concebida a
partir de uma forma muito tradicional, sendo que, no exterior, as paredes são
rebocadas em algumas partes e noutras levam apenas uma massa de cor branca, nas
juntas das pedras de granito.
A minúcia do desenho
do alçado sul, apesar da horizontalidade marcada pelas janelas e sublinhada
pela linha das pedras, não segue manda o movimento moderno pelo facto de não
ser fácil, taxativo e directo. Isto porque necessitou de um desenho muito mais
cuidado, tendo em conta que é nele que se situa a entrada para a casa. A certa
altura, na explicação disto mesmo, surge a seguinte frase:
“(…) leva-nos a pensar num pelo motivo poético,
eventualmente uma alegoria à vida num barco.”[18]
o que em nada é parecido com os cânones
modernistas, pois estes não buscam metáforas por detrás das coisas.
Tendo em conta a
simplificação dos planos que o modernismo segue, a cobertura da casa foge a
isso pois tem duas águas com inclinações diferentes e opostas, sendo que a água
maior tem 11º e a menor tem 15º. Com isto, Andresen pretende conjugar Tradição
e Inovação pois esta cobertura assimétrica é uma espécie de síntese/junção
entre a forma tradicional e a sua
antítese moderna.
No seu interior, a arquitectura
é bastante funcional mas tem como suporte do seu desenho muita espiritualidade.
O caso mais extremo disso é o “Quarto Elevado” que evoca antiquíssimas
tradições do Monasticismo e do Aticismo.
Mas, mesmo antes de chegarmos ao dito Quarto, o acesso ao mesmo é também muito fantástico. Apesar de parecer uma decisão fácil de ser tomada, a rampa que nos permite chegar ao “Quarto Elevado” foi pensada como sendo uma espécie de “passadiço ou ponte leve pousada sob o vazio”.
Mas, mesmo antes de chegarmos ao dito Quarto, o acesso ao mesmo é também muito fantástico. Apesar de parecer uma decisão fácil de ser tomada, a rampa que nos permite chegar ao “Quarto Elevado” foi pensada como sendo uma espécie de “passadiço ou ponte leve pousada sob o vazio”.
Web/Bibliografia
ALPENDURADA,
Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009.
TOSTOES, Ana, EM
Ana Tostões (ed.) Os verdes anos da arquitectura portuguesa nos anos 50,
Porto: Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 1997.
http://poesiaseprosas.no.sapo.pt/sophia_m_b_andresen/poetas_sophiambandresen01.htm
http://www.tesisenred.net/bitstream/handle/10803/6819/TERF2de2.pdf
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arquitetura_moderna#Arquitectura_do_ferro
http://es.wikipedia.org/wiki/Modernismo_(literatura_en_espa%C3%B1ol)
[1] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada
(ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização
Editora, 2009, p. 31
[2] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada
(ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização
Editora, 2009, p. 33
[3] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada
(ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização
Editora, 2009, p. 33
[4] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada
(ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização
Editora, 2009, p. 42
[5] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada
(ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização
Editora, 2009, p. 22
[6] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada
(ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização
Editora, 2009, p. 47
[7] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada
(ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização
Editora, 2009, p. 79
[8][4] ANDRESEN, João, Carta de João Andresen a
Ruben A “Porto, 950/III/20, Meu caro Ruben A: EUREKA!! (…)”,EM Joaquim Pedro
Alpendurada (ed.), A Casa Ruben A.,
Porto: Civilização Editora, 2009, pp. 39-40.
[9] [5]ANDRESEN, João, revista “Arquitectura”, 41, EM
Joaquim Pedro Alpendurada (ed.), A Casa
Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009, p. 41
[11] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização
Editora, 2009, p. 58
[12] ALPENDURADA,Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização
Editora, 2009, p. 52
[13] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização
Editora, 2009, p. 53
[14] ALPENDURADA,
Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009, p. 64
[15] ALPENDURADA,
Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009, p. 65
[16] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada
(ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização
Editora, 2009, p. 45
[17] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada
(ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização
Editora, 2009, p. 62
[18] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada
(ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização
Editora, 2009, p. 52
Painel 1- Alçado e planta de coberturas com sombra
Painel 2- Planta do piso 1 e Alçados
Painel 3- Planta do piso 2 e Alçados
Painel 4- Axonometria
Painel 5-Perspectivas interiores
Painel 5-Perspectivas exteriores