sábado, 2 de junho de 2012

   ANDRESEN, João, A Casa Ruben A, Pinhal do Carreço- 1948


 As características do contexto de intervenção e o modo como o projecto lhes responde

Num dos períodos mais importantes da sua vida, Ruben A. sonha poder ter o seu próprio refúgio, o seu próprio lugar, e aí pensa em aplicar o seu dinheiro – 78 contos – em felicidade.

“ (…) Vontade de erguer o meu altar onde pudesse ser eu a cruzar os mares dos meus próprios sonhos.” [1]

Essa sua ideia de construir para si mesmo um refúgio em Portugal junta-se ao desejo que tinha em habitar no Alto Minho. Desde sempre Ruben A. mostrou particular interesse por essa região pois, para si, este era um lugar cheio de histórias que iam ao encontro de uma “condição mítica do seu imaginário”.[2] 
 
“Pretendia construir uma casa onde não existisse qualquer relação entre o meu passado e o presente, casa livre de sentimentos. Havia necessidades básicas: perto da praia, pois no verão eu vinha à terra, muitas árvores, pinheiros, isolada, só a natureza a falar comigo, longe de gentes, realidade fácil de transportes para quem viaja de comboio ou à pata.” [3]

   A Casa Ruben A. situa-se então em Carreço, Viana do Castelo, na encosta poente de Montedor. Envolta entre pinheiros e rochas, resolvida em três “meios pisos” e a acompanhar o declive da encosta em direcção ao mar.

“A construção está lá, como se fosse uma rocha qualquer. Sargaço é mais um elemento entre outros. A paz e a tranquilidade do pinhal – que para João Andresen é sagrado – é também a paz e tranquilidade da casa. A qualidade da natureza que envolve a casa é também a qualidade da casa. Antes de cá estar a casa, já cá estava a natureza. Por isso, respeitar a natureza significa mexer o menos possível nela” [4]

  Esta casa respeita e interpreta na perfeição a personalidade do lugar, dando maior ênfase, através das suas pedras e das suas formas simples, a intimidade do refúgio.
  Para João Andresen, era importante fazer as construções de forma que nunca pudessem ser construídas noutro sítio. É perceptível em todas as suas obras uma preocupação permanente em enquadrá-las tanto no espaço físico como social. Isto é, tem sempre em conta o local onde se vai construir o projecto como também as pessoas que o vão usar.
João Andresen faleceu em 1967, mas no entanto deixou um vasto número de obras que, contrariamente ao que quase todos os arquitectos da sua geração faziam, estavam sempre associadas às regiões na qual iam ser construídas. 
Ana Tostões, no seu livro Os Verdes Anos da Arquitectura Portuguesa, sublinha a forma particular como João Andresen implanta os seus projectos nos terrenos: 

“Revelará uma aguda sensibilidade em relação ao lugar e ao contexto que a sua genialidade impedirá de assumir de um modo discreto”. [5]

Desde o início da localização que a natureza essencial da arquitectura se realiza. O terreno escolhido por Ruben A., permite que a casa “olhe” sobre tudo e, ao fundo, “veja” a paisagem infinita do horizonte marinho.
A casa é um volume linear colocado transversalmente às curvas de nível do terreno, e tanto a sua localização como a implantação fazem da casa uma espécie de linha topográfica que marca a relação Terra-Mar, Nascente-Poente e é ainda um eixo dirigido para a paisagem do horizonte.
A  ligação entre a construção e o lugar não é visualmente perceptível sendo preciso interpretar o espírito de lugar. As aberturas nas paredes da casa são orientadas em relação ao exterior, tirando partido e valorizando determinados aspectos do espaço exterior .
É da implantação que a casa surge a fazer frente à paisagem através de uma fachada frontal, simétrica e verticalizada.
O alçado Poente, é marcado por dois rectângulos abertos na direcção do mar, onde se vê a varanda (em cima) e o alpendre (em baixo).
O alpendre não é um espaço facilmente classificável, no entanto tem uma natureza única e uma condição singular. Este anuncia delicadamente a entrada da casa e com tranquilidade sugere o descanso. 

 “ O projecto da Casa Errazuriz, junto ao mar, no Chile(1930), e a casa em Mathes, França(1935), de Le Corbusier, projectadas, respectivamente, 20 e 15 anos antes da Casa Ruben A., parecem ter sido as principais referências dessa construção.”[6]

A forma da casa contraria geometricamente a forma da paisagem, sendo esta oposição mais evidenciada pela linha de cobertura da água de maior dimensão.
O desejo de tradição/inovação é expressa pela solução de coberturas, muito característica da obra de João Andresen. Entre o modelo típico arquitetónico da cobertura em duas águas inclinadas para fora e a solução radical da cobertura plana, ele opta pela cobertura de águas inclinadas e assimétricas.
Na Casa, a síntese tradição/inovação concretiza-se numa arquitectura em que predominam massas e opacidades, como expressão de refúgio, firmeza e intimidade.
A simples linha contrária à pendente do terreno, define a ideia da Casa de Ruben A - “Ao elevar-se, abriga o interior e concretiza a ideia de refúgio. Desafia a natureza.”
Concentração, centralidade, refúgio e isolamento são os significados que estão incutidos na solução do “Quarto Elevado”.

“Desta maneira, a obra de arquitectura, por seu modo específico de estar entre o Céu e a Terra – pelo modo de erguer-se e apoiar-se, de estender-se e concentrar-se, de abrir-se e fechar-se…- reflecte, em formas sensíveis, estados da alma humana (Befindlichkeit). A imagem arquitectónica constitui-se, não apenas como iconografia aparencial, mas sobretudo como construção de uma espacialidade vivida (Raumlichkeit), construção de um modo humano de estar «entre o Céu e a Terra». A obra de arquitectura realiza-se então como «acontecimento de verdade» ”[7]





A lógica funcional e espacial da planta que melhor representa o projecto

Se analisarmos a planta do piso inferior podemos ter conhecimento dos compartimentos mais importantes, criados por J. Andresen, cumprindo os desejos do seu primo.
Segundo uma carta de J. Andresen para Ruben A[5], a casa tem:

“(…) sala única com 4m x 6m e tal com uma parede em vidro sobre o mar, em rez do chão(…) Quarto de hóspedes pequeno voltado ao sul, quarto de banho e cozinha de “Wagon- Lits”. Um grande alpendre para onde dá a parede envidraçada da sala, céu, terra mar e AR.”[8]

Ao todo a casa tem 90 por 70m2 de área.
Tanto no exterior como interior, esta casa foi concebida economicamente e, por isso, possuí:

“Paredes de granito, cobertura em chapa ondulada “Lusalite” tectos em chapas de aglomerado de cortiça 0,03m de espessura, sem rebocos, caixilharia em macacauba, portas de contraplacado, lambrins de cozinha e quarto de banho em chapa de alumínio, (…) pavimento da sala e quarto de hospedes em tijoleira. (…)” [9] [6]

Neste piso de rés-do-chão, notam-se dois espaços diferentes de distribuição: um, com uma forma regular a partir do qual podemos aceder ao quarto principal, através de uma rampa, e outro, com uma forma irregular. Um espaço muito pequeno em que depois de entrar nele, através de uma porta, nos deparamos com mais três espaços: a cozinha, o quarto de banho e o quarto de hóspedes. Fazendo referência às primeiras casas de Le Corbusier, este último espaço, irregular, é interessante sobretudo pela sua procura de valorização do sentido de circulação.
É notória a influência de Le Corbusier para a criação desta casa, como é confirmado por uma referência de Alpendurada:

“(…) As experiencias da nova estética purista, marcada por uma abstracção da linha curva e da forma cúbica e referenciando temas triviais, como uma garrafa de vinha, uma chávena de café, uma viola, um jarro… influenciavam as formas corbusianas. Elas surgem nos seus edifícios, geralmente associadas a elementos como caixas de escadas, rampas, painéis divisórios ou paredes de quarto de banho. Com essas formas, Le Corbusier muitas vezes valoriza o sentido de circulação no interior dos seus edifícios, ao mesmo tempo que cria uma dinâmica espacial mais rica e sensual”[10]

No terraço, um espaço tanto interno como externo, tem mo pavimento um acabamento de areia da Praia do Carreço, tornando evidente a simbologia de ligação ao sitio e à Terra.

Protegida por este terraço, segue-se a porta de entrada contida na esquadria, composta de folhas fixas e móveis, que ocupa o vão inteiro. Esta esquadria não se parece como uma perfuração, é diferente das aberturas pontuais nas fachadas laterais e posterior, é sim, segundo o próprio Andresen,  uma “parede de vidro sobre o mar”.
Podemos observar que neste piso, o espaço mais importante  da Casa é a sala comum.
Com mobiliário reduzido, parece tanto moderna como tradicional. A mesa e a lareira são o centro da sala, enfatizada pela verticalidade da chaminé. É em volta dessa quase desenvolve a intimidade doméstica.
É com conjunto da caixa e chaminé da lareira, juntamente com as prateleiras, que o volume é construído e que a complexidade e riqueza espacial aumentam.
Este espaço é o núcleo da casa em termos funcionais, pois não só se abre para o exterior como dá acesso a todas as restantes divisórias da casa. É o centro que tem continuidade para o exterior e tudo o resto está anexado a esse.
Existem 4 degraus que levam a um nível acima, onde se situa o quarto de hóspedes, Cozinha, Quarto de banho e o patamar que dá acesso à rampa.
Esta rampa resulta como um passadiço ou ponte suspensa sobre o vazio, para o lugar mais refugiado da casa, mas também o mais privilegiado em paisagem, o quarto principal.






A lógica funcional e espacial do corte que melhor representa o projecto

Sendo que, por escolha do morador, a casa é situada numa encosta sobre o mar, em Montedor,

“destina-se a gozo de férias de verão dum Professor de Português  numa Universidade estrangeira, de 30 anos.”

  Ruben A gosta tanto do Alto-Minho, como do mar, ou até mesmo da companhia que a leitura lhe proporciona, por isso, esta casa é ideal para estar bem longe da capital e viver o que ele mais aprecia
O desenho da habitação e, consequentemente, o modo como se habita é identificado claramente com a paisagem que a envolve.
Como tal, podemos verificar no corte, que a casa parece apontar para o mar. Contém um eixo principal que está orientado para nascente/poente, e acompanha a inclinação do terreno em direcção ao mar. No entanto, a sua localização é perpendicular a linha do Atlântico, justificada pelo desejo do morado Ruben A, de ficar isolado num quarto em piso superior, obrigando assim o seu primo a projectar desde o início uma casa com 2 andares.
A casa tem 3 níveis, sendo que dois são de um primeiro andar de rés-do-chão, pois esta acomoda-se ao terreno, pousando suavemente sobre ele.
É destes desnivelamentos que resulta a verticalidade exterior e espacialidade interior.
Andresen aproveitou a inclinação da encosta e desenhou o quarto de Ruben A., na parte poente da Casa, isolando-o dos restantes compartimentos, como o morador desejava, sem fragmentar a construção e garantindo uma maior diferença de cota em relação ao terreno.
Este quarto está situado no plano mais elevado da construção, e é, basicamente, o refúgio de Ruben A, dentro do refúgio. É um espaço voltado a poente, muito isolado pois apenas uma rampa de 5 metros une este compartimento as restantes áreas da casa.
A entrada deste quarto, é marcada pelo quadro que nos é proporcionado pela janela que existe no cimo da rampa.
João Andresen aproveita os desejos de seu primo para criar com este quarto um pequeno mundo dentro de outro mundo, pois a casa em si já é um ninho. A elevação do mesmo, remete para a necessidade de descobrir um estado de espírito superior, estar no cimo das árvores, acima do chão. Assim, este quarto confere um carácter singular.
Contem ainda uma varanda, pequeno espaço para desfrutar da paisagem.
A construção da forma resulta sobretudo da maneira como a cobertura, feita a partir das duas águas inclinadas e de tamanhos diferentes, se relaciona com as paredes, denunciando assim duas zonas da Casa.
“Debaixo da água menor, encontramos o pequeno quarto de hospedes, a cozinha e o quarto de banho. Debaixo da água maior, com duplo pé direito, situa-se a sala comum sobre a qual se debruça o quarto de Ruben A.”[11]

A forma da Casa Ruben A é geometricamente oposta à forma da paisagem, pois tem linhas com direcções contrárias a declive topografico, criando uma segunda natureza.
Neste corte pode observar-se as linhas do alçado Sul, pelo facto da Casa ter uma forma muito particular.
É possível mostrar toda a espacialidade da casa, num corte.
Nota-se claramente o uso de volumes e linhas simplificadas, desde o tecto à elevação de espaços, etc.
E a lógica espacial é muito à volta disso mesmo. Podemos voltar a dizer que, além da lógica funcional na circulação da Casa, também a lógica espacial mostra bastante influência de Le Corbusier.
Uma arquitectura branca e pura que se identifica com o ambiente que o morador idealiza.






Os aspectos do projecto mais próximos dos modelos canónicos do movimento moderno

O Movimento Moderno, sendo a designação genérica para o conjunto de movimentos que vieram a caracterizar a arquitectura produzida durante grande parte do século XX, está patente na Casa Ruben Andresen.

“O alçado Sul é mais elaborado pelo facto de nele se encontrar a entrada da casa, o seu desenho muito cuidado. A linha resultante da junta entre o reboco e o granito marca de forma clara o desenho da horizontalidade na arquitectura da casa.”[12]

Seguindo esta caracterização feita ao alçado sul, por Alpendurada, verifica-se uma das máximas representantes do modernismo - a forma resultante seguir a função, que responde a imperativos éticos do Movimento Modernista ligados às exigências de funcionalidade, de verdade estrutural e da simplicidade formal, apresentando esse desenho em base da horizontalidade e uma forma pura intencional.
Ainda sublinhando esta horizontalidade, existe uma janela de forma rectangular que apenas é contrariada pela forma da chaminé.

Uma das janelas do alçado Norte desta casa tem um aspecto marcante na fachada pelo facto de o corpo onde e situa a cozinha estar num plano diferente em relação ao restante da casa,
 “dando origem a um sutil desfasamento entre as duas águas”[13]

que confere dinamismo à composição (mais uma referencia a influencia de Le Corbusier para o desenho da Casa).
Por estar voltado a norte o número de aberturas é menos e, por isso, este alçado é mais simples do que o alçado sul, notando-se ainda mais a necessidade por linhas concretas e formas brancas, sem elementos decorativos.
A  localização de uma das janelas é pensada em relação ao interior da casa.

Se continuarmos a analisar os restantes alçados poderemos ainda perceber que a linha recta, os rectângulos e o jogo de planos está permanentemente presente, contribuindo a relação da casa de exterior interior.
      A janela na fachada Oeste aparece como «forma fechada» pela simetria e verticalidade desta.
Já nas elevações Norte e Sul a arquitectura assume «formas abertas» marcadas pela assimetria e dissonância, que lhe conferem uma expressão dinâmica e inequivocamente moderna.
      Uma imagem – chave na arquitectura da casa é a «pequena janela» que aparece como perfuração revelando a espessura da parede em que foi vazada. Uma imagem semelhante a que outros arquitectos, como Corbusier e Távora, que buscam no primitivo fontes originais da Arquitectura Moderna também usam em obras deles.
Segundo Bacheland:
“Uma Casa tão dinâmica permite ao poeta habitar o Universo. Ou, dito que outra maneira, o Universo vem habitar sua Casa”[14]

A casa de um homem moderno é muito dinâmica, como se nota na arquitectura de Le Corbusier.
Segundo o escritor português João Gaspar Simões:
“Ruben A, tinha erguido perante o mar no alto daquele monte, em pleno Condado Portucalense, uma dessas habitações modernas que dão à vida na terra a flutuação da vida no mar”.[15]
A solução da cobertura é parte importante na evidente expressão de dinâmica na Casa. Esta mesma cobertura é uma nova síntese que resulta numa solução arcaica e moderna.
Andresen é muito característico na procura de o Tempo Português, entre uma cobertura arquetípico com duas águas inclinadas para fora, e uma cobertura plana, este arquitecto opta por um misto de ambas. Inclinadas mas assimétricas.
Apesar dos vários materiais usados pelo arquitecto na casa apenas o vidro, usado nas janelas e paredes,  e o betão, usado no pavimento no quarto do 1º andar, são os materiais característicos  do movimento moderno.
 Uma outra máxima que se torna uma das representantes do Modernismo é o sentido de menos é mais, máxima esta que também se encontra na casa Ruben . No âmbito da resolução dos problemas da Habitação Mínima: o uso dos “meios-pisos”, a valorização dos elementos de circulação, (como a escada e a rampa,) a fenestração definida a partir das necessidades funcionais do interior e da relação deste com a paisagem externas, as paredes brancas e lisas, volumes de contornos claros, são de certa forma evidentes na invocação das obras de Le Corbusier. A linguagem marcadamente moderna, feita de paredes lisas, ora brancas, ora de pedras, a cobertura inclinada integrada no volume de construção, a pureza desses mesmo volumes, são aspectos presentes nessa obra.
 Os edifícios deveriam ser económicos, neste sentido, a casa Ruben Andresen apresenta mais uma vez modelos canónicos próximos do movimento moderno: com pouco dinheiro se fez a obra – 78 contos- em 1950- foi quanto custou o sonho de Ruben A.  A economia foi a principal condição para a realização da obra, executada por um empreiteiro local.
     
“ A linguagem da Casa Ruben A. de João Andresen é moderna. As suas formas são puras. O traço afirmativo e seguro. Quer pelo modelo de vida informal, quer pela linguagem depurada. Sargaço é moderna.”[16]

Por fim, outro aspecto deste projecto que é bastante próximo dos cânones que o movimento moderno ditam, e sendo esta uma das principais características modernas na casa, é o conceito de Promenade Architecturale de Le Corbusier. Este conceito diz que os espaços envolventes mais próximos da casa, ou sejam os acessos directos para a mesma, devem ser dinâmicos e nunca óbvios e/ou comuns. Este conceito deve sempre seguir uma ideia de surpresa.
Nesta casa de João Andresen, isso é perceptível logo na entrada, pois esta não é feita pelo alçado poente, alçado principal e frontal da casa, no entanto, é visível e perceptível desse ponto de vista. Isto obriga a que quem chegar à casa percorra todo o alçado poente e só na lateral (alçado sul) é que poderá então entrar, o que se traduz então num acesso/caminho dinâmico. Continuando a referir-me à entrada da casa, esta situa-se por baixo da laje da varanda do quarto, o que dá ao acto de entrada um progresso gradual entre exterior/interior.
Para além de se poder entrar pela porta que realmente serve para tal, existe outra possibilidade para o fazer que é pelo lado sul, onde existem uns degraus que nos levam à parte mais a nascente e entramos na mesma pela cozinha que está numa cota superior em relação ao resto da casa. Isto, tal como diz a “Promenade Architecturale”, faz com que os acessos sejam dinâmicos e ainda variados.



Os aspectos do projecto que mais se distanciam dos modelos canónicos do movimento moderno

Tendo em conta os modelos canónicos do movimento moderno, podemos concluir que esta casa segue muitos dos seus traços, e por isso, em pouco se distancia do mesmo. No entanto, existem pequenos momentos em que este projeto não vai ao encontro desse mesmo movimento, momentos esses que serão analisados abaixo.
Na sua construção (quer interior, quer exterior) são utilizados grandes blocos de granito, que já eram usados desde tempos imemoriais da história da arquitectura portuguesa, ou seja, que em nada são modernos.
Quanto à sua implantação, é transversal e contrária a topografia do sítio, como já foi referido. Isto confere à obra de Andresen qualidades de frontalidade e axilidade claramente clássicas. Sendo Ruben A:

“ A casa de puro-sangue assentava as omoplatas no arregalar de olhos de uma Natureza intacta pelo homem desde a sua criação”[17]

A Casa é concebida a partir de uma forma muito tradicional, sendo que, no exterior, as paredes são rebocadas em algumas partes e noutras levam apenas uma massa de cor branca, nas juntas das pedras de granito.
A minúcia do desenho do alçado sul, apesar da horizontalidade marcada pelas janelas e sublinhada pela linha das pedras, não segue manda o movimento moderno pelo facto de não ser fácil, taxativo e directo. Isto porque necessitou de um desenho muito mais cuidado, tendo em conta que é nele que se situa a entrada para a casa. A certa altura, na explicação disto mesmo, surge a seguinte frase:

“(…) leva-nos a pensar num pelo motivo poético, eventualmente uma alegoria à vida num barco.”[18]

o que em nada é parecido com os cânones modernistas, pois estes não buscam metáforas por detrás das coisas.
Tendo em conta a simplificação dos planos que o modernismo segue, a cobertura da casa foge a isso pois tem duas águas com inclinações diferentes e opostas, sendo que a água maior tem 11º e a menor tem 15º. Com isto, Andresen pretende conjugar Tradição e Inovação pois esta cobertura assimétrica é uma espécie de síntese/junção entre a forma tradicional  e a sua antítese moderna.
No seu interior, a arquitectura é bastante funcional mas tem como suporte do seu desenho muita espiritualidade. O caso mais extremo disso é o “Quarto Elevado” que evoca antiquíssimas tradições do Monasticismo e do Aticismo.
Mas, mesmo antes de chegarmos ao dito Quarto, o acesso ao mesmo é também muito fantástico. Apesar de parecer uma decisão fácil de ser tomada, a rampa que nos permite chegar ao “Quarto Elevado” foi pensada como sendo uma espécie de “passadiço ou ponte leve pousada sob o vazio”.   



Web/Bibliografia


           ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009.

           TOSTOES, Ana, EM Ana Tostões (ed.) Os verdes anos da arquitectura portuguesa nos anos 50, Porto: Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 1997.

           http://poesiaseprosas.no.sapo.pt/sophia_m_b_andresen/poetas_sophiambandresen01.htm

           http://www.tesisenred.net/bitstream/handle/10803/6819/TERF2de2.pdf

           http://pt.wikipedia.org/wiki/Arquitetura_moderna#Arquitectura_do_ferro

           http://es.wikipedia.org/wiki/Modernismo_(literatura_en_espa%C3%B1ol)



[1] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009, p. 31
[2] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009, p. 33
[3] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009, p. 33
[4] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009, p. 42
[5] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009, p. 22
[6] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009, p. 47
[7] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009, p. 79
[8][4] ANDRESEN, João, Carta de João Andresen a Ruben A “Porto, 950/III/20, Meu caro Ruben A: EUREKA!! (…)”,EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.), A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009, pp. 39-40.
[9] [5]ANDRESEN, João, revista “Arquitectura”, 41, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.), A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009, p. 41
[11] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009, p. 58
[12] ALPENDURADA,Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009, p. 52
[13] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009, p. 53
[14] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009, p. 64
[15] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009, p. 65
[16] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009, p. 45
[17] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009, p. 62
[18] ALPENDURADA, Joaquim Pedro, EM Joaquim Pedro Alpendurada (ed.) A Casa Ruben A., Porto: Civilização Editora, 2009, p. 52






Trabalho de Síntese Final | UC Geometria


 Painel 1- Alçado e planta de coberturas com sombra
  Painel 2- Planta do piso 1 e Alçados
  Painel 3- Planta do piso 2 e Alçados


Painel 4- Axonometria

 Painel 5-Perspectivas interiores

 Painel 5-Perspectivas exteriores